Histórico:

O culto a Nossa Senhora da Conceição foi definido como festa universal no dia 8 de dezembro de 1476 pelo Papa Sisto IV. Em 1570, Pio V publicou novo ofício e, em 1708, Clemente XI tornou a festa obrigatória a todos os católicos. Ao longo do tempo, a celebração ganhou força em Portugal, chegando a ser considerada a padroeira da nação em 1646. Conceição era padroeira do reino de Portugal, por isso chegou no Brasil com uma devoção tão forte. No Ceará não foi diferente, Nossa Senhora da Conceição é oficialmente padroeira de 35 municípios cearenses, entre eles, Acaraú.

A cabotagem e a comercialização do charque (ou carne seca) foram dois importantes fatores para o desenvolvimento do povoado, inicialmente chamado de Oficina e em seguida Barra do Acaraú, que na língua indígena significa “rio das garças”. Acaraú se torna município em 1882, vale ressaltar que antes da chegada dos colonizadores, a região já era povoada por povos indígenas, especialmente os Tremembé, que atualmente vivem no estado do Ceará, nos municípios de Itarema, Acaraú e Itapipoca.

A primeira igreja de Acaraú, consagrada como Nossa Senhora da Conceição, foi construída pelos próprios moradores da localidade, no século XVIII. A partir do século XIX, a capela foi substituída por uma construção de alvenaria, passando por pequenas reformas até 1902, quando a igreja antiga foi destruída para dar lugar ao templo atual, que é o lugar principal das comemorações da padroeira. A paróquia de Nossa Senhora da Conceição, criada em 1832, é responsável pela organização da festa, que acontece há quase dois séculos, sempre iniciando no final do mês de novembro e terminando no dia 08 de dezembro.

Descrição:

A festa de Nossa Senhora da Conceição é o momento onde boa parte da comunidade católica de Acaraú se reúne e se auxilia mutuamente para participar da realização da festividade. Além da natureza religiosa da festa, considerando sua referência como padroeira oficial da cidade, existe também simbologias de civismo relacionadas à formação da identidade acarauense.

A festa ocorre com o apoio e organização da paroquia local, porém a Prefeitura tem participação importante para viabilizar estruturalmente e financeiramente as comemorações. São diversas atividades que ocorrem durante 12 dias de programação. Missas diárias realizadas por padres de outras paróquias, quermesse, bingo, noite de bênçãos, entre outras atividades.

Destacamos o primeiro dia, que inicia com um ato cívico. Com a presença de autoridades políticas que fazem os hasteamentos das bandeiras, ao canto dos hinos nacional e municipal. Posteriormente, uma grande ciclomotocarreata, que percorre toda a cidade, levando a imagem da santa. Outro momento de destaque é o último dia das comemorações, a missa da padroeira com a presença do bispo e uma grande procissão iluminada que anda pelos espaços centrais da cidade.

A festa tem impacto econômico e turístico no município, haja vista a presença de muitos visitantes de outras localidades e regiões que visitam a cidade para participar e vivenciar a festa de Nossa Senhora da Conceição.

Situação atual: O patrimônio imaterial abrange diversas manifestações, tais como festas, música, dança, culinária, dentre outras. O Decreto n. 3.551 instituiu uma política patrimonial que permitiu um novo olhar sobre essas práticas culturais. A festa de Nossa Senhora da Conceição não foge a esta tendência. A festa se tornou lugar de encontro, unindo o sagrado e o profano, a alegria das atrações religiosas e a solenidade do dia do município.

A festa é bem organizada e estruturada, com grande equipe de apoio, equipamentos, estruturas para realização de eventos de grande porte. É visível a grande participação das comunidades do município e de outras localidades do Estado. Existe participação da comunidade na organização da festa e o evento religioso movimenta a economia da cidade, através do turismo religioso. Na perspectiva patrimonial não foi percebido ações com a finalidade de apresentar e divulgar a festa como patrimônio cultural da cidade.

Apesar da Festa de Nossa Senhora da Conceição possuir elementos simbólicos, históricos e culturais que a caracterizem como patrimônio e referência cultural de parte da sociedade acarauense, Acaraú possui diversas outras expressões culturais que poderiam também ser reconhecidas e valorizadas, como por exemplo: o ritual indígena do Torém, ainda presente nas comunidades de Queimadas e Telhas.

Legislação: Lei Municipal 1772/2018 de 26 de novembro de 2018.

Como chegar: Empresas que possuem rotas de ônibus para Acaraú: Expresso Guanabara.

Agenda Cultural: Vasta programação cultural religiosa que pode ser acompanhada no instagram @paroquiadeacarau

Funcionamento: Não se aplica

Contato: @paroquiadeacarau

Localização: R. José Domingues, 66 – Centro, Acaraú- CE, 62580-000

Acessibilidade: Existência de rampas na Igreja Matriz.

Possibilidades de Educação patrimonial:

• Disciplina/Série Escolar: História – 5º ano Fundamental.
• Objeto de Conhecimento: O papel das religiões e da cultura para a formação dos povos antigos.
• Habilidades: Analisar o papel das culturas e das religiões na composição identitária dos povos antigos.
• Tema: As heranças religiosas do povo acarauense.
• Sugestão de atividades: Refletir com os alunos sobre as práticas religiosas que eles conhecem e vivenciam. A partir das experiências narradas pelos alunos, propor trabalho de pesquisa em grupo para apresentação da herança religiosa dos colonizadores, dos povos indígenas e africanos em Acaraú. Apresentação dos trabalhos e finalizar com reflexão sobre a escolha da festa de Nossa Senhora da Conceição como patrimônio da cidade.

Referências:

ALDINO, Maria Rakel Amancio. Mulheres escravas e forras na Ribeira do Acaraú (1750-1788). 2013. 277f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós- graduação em História, Fortaleza (CE), 2013. Disponível em https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/6154#:~:text=Para%20assegur%C3%A1%2Dlos%2C%20 as%20mulheres,escravos%20e%20at%C3%A9%20mesmo%20senhores .

CARNEIRO, Mayra Vaz. Telhado de Vidro: uma reflexão sobre os processos de inventário de patrimônio imaterial do IPHAN-RJ a partir do caso do inventário da Festa de Nossa Senhora da Conceição-RJ. Dissertação (Mestrado em História, Política e Bens Culturais) – FGV – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em https://repositorio.fgv.br/server/api/core/bitstreams/6c4d9a52-6969-4e52-92d0- 882262db993d/content

O canto das garças me contou / Organização Aline Silva Lima;. Patrícia Pereira Xavier. – Fortaleza : Iphan, 2017. 124 p. Disponível em Http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/o_canto_das_garcas_me_contou.pdf

Perfil histórico, geográfico e antropológico dos municípios do Ceará [livro eletrônico] / Seridião Correia Montenegro. – Fortaleza: INESP, 2023 Disponível em: https://www.institutodoceara.org.br/arquivos/Livros/PERFIL%20HIST%C3%93RICO%2C%20GE OGR%C3%81FICO%20E%20ANTROPOL%C3%93GICO%20DOS%20MUNIC%C3%8DPIOS%20DO% 20CEAR%C3%81%20-%20TOMO%201%20-%20INESP%20-%20ALECE.pdf